Especialistas falam sobre a síndrome da Covid Longa que tem sido observada em grande escala no pós-pandemia
Chamada inicialmente de “pneumonia misteriosa”, o primeiro caso de Covid-19, oficialmente notificado no mundo, foi detectado no dia 1º de dezembro de 2019, em Wuhan, capital da província de Hubei, na China. No Brasil, a primeira notificação feita pelo Ministério da Saúde aconteceu no dia 25 de fevereiro de 2020, em São Paulo, Capital. E, após este período, milhares de pessoas foram infectadas pelas variantes do SARS-Cov-2, fazendo com que muitas delas fossem hospitalizadas e outros milhares perdessem a vida.
Percebe-se que em quase dois anos e meio desde a primeira infecção, mesmo com a vacinação em ação, ainda é possível observar os estragos da doença que continua em circulação e tem deixado sequelas diferentes em muitas pessoas acometidas pela Covid-19. E para falar sobre este tema tão importante, convidamos a Dra. Marina Spricigo Maragno e o Dr. Guilherme Furtado, ambos infectologistas, que responderam alguns questionamentos pertinentes sobre a Covid Longa ou Covid Crônico como também é conhecida.
Segundo a doutora Marina, a Covid longa é a condição pelo qual os indivíduos com histórico de infecção pelo SARS CoV-2 não se recuperam por completo e apresentam sintomas e sequelas após a chamada fase aguda da doença (os primeiros 30 dias). Podem ser manifestações pulmonares ou extrapulmonares e duram semanas a, geralmente, alguns meses. Acomete cerca de 10-30% dos pacientes e as possíveis hipóteses seriam persistência de vírus vivo, resposta autoimune, sequela inflamatória sistêmica ou disautonomia.
O doutor Guilherme relata que a Covid longa ou síndrome pós Covid podem ser divididas em dois estágios, sendo o primeiro para a Covid clássica, cujos sintomas persistem entre 3 a 12 semanas, e a segunda classificação para Covid crônica com sintomas que se estendem acima de 12 semanas e podem persistir por meses. “A identificação para esse tipo de patologia, bastante recente, sendo que não conhecíamos nenhum quadro similar, é identificado exatamente por essas características”, comenta. Existe uma definição em alguns estudos que classifica os pacientes no pós Covid em várias categorias, geralmente por sítio de sintomas que englobam respiratórios, cardiorrespiratório e até neuropsiquiátricos. O Dr. Guilherme identifica que os pacientes cardiorrespiratórios têm tosse, dispnéia e dor torácica. Os neuropsiquiátricos apresentam dor de cabeça, perda de olfato e paladar, insônia, depressão.
A doutora Marina explica que as principais queixas dos pacientes descrevem fadiga, dispnéia, tosse, dor torácica, taquicardia, artralgia, mialgia, febre, perda de cabelo e uma série de sintomas neurológicos e psiquiátricos incluindo comprometimento cognitivo, dificuldade de concentração, esquecimento, insônia, cefaleia, vertigem, ansiedade e depressão, assim como distúrbios vasculares, olfatórios e de paladar. “Os sintomas podem surgir de novo, após a recuperação inicial da Covid-19, ou persistir desde a doença original. Eles também podem flutuar ou serem recorrentes ao longo do tempo. Ainda não estão claros quais são exatamente os fatores responsáveis por desencadear a doença em pacientes já recuperados”, ressalta.
Ainda, segundo o doutor. Guilherme, há também o pós Covid gastrointestinal (sintomas de diarreia, constipação e vômitos), pós Covid Hepatobiliar (sintomas de alteração de enzimas hepáticas e icterícia), pós Covid músculo esquelético (dores musculares, fraquezas e dores nas juntas), pós Covid tromboembólico (sinais de trombose, embolia pulmonar e outros sintomas de coagulamento e de coagulação), além de quadro de geniturinário (alguns pacientes têm sangramento na urina e desenvolvimento de alteração de função renal) e quadro dermatológico (lesões de pele, manchas macropapulares ou bolhas tipo vesículas). “As classificações de pós Covid se dão por categoria de acordo com o órgão envolvido”, enfatiza.
“A duração dos sintomas persistentes na Covid longa é maior em pacientes que apresentaram sintomas graves em comparação com a doença moderada ou leve. Dessa forma, todos os fatores de risco conhecidos previamente para a evolução grave da Covid-19 como obesidade ou idade avançada se encaixam no perfil de risco para Covid longa. Um estudo desenvolvido pela Fiocruz Minas e publicado recentemente apontou outras comorbidades como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, cardiopatias, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), doença renal crônica, tabagismo ou alcoolismo. Ainda, de acordo com a OMS, Covid longa ocorre com mais frequência em mulheres de meia-idade e naqueles que apresentaram mais sintomas inicialmente”, comenta a doutora Marina.
* Marina Spricigo Maragno – CRM/SP 152887 – é médica com graduação pela Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, Criciúma-SC. Residência Médica em Infectologia no Hospital Heliópolis, SP; Infectologia Hospitalar na Universidade Federal de São Paulo, SP; Pós-Graduação em Prevenção e Controle de Infecção Hospitalar pelo Hospital Israelita Albert Einstein, SP; Membro da Sociedade Brasileira de Infectologia; e Título de Infectologista pela AMB, realizado no XIX Congresso Brasileiro de Infectologia.
* Dr. Guilherme Furtado – CRM/SP 106426 / Infectologia RQE Nº: 46975 / Clínica Médica RQE Nº: 48518 – é medico infectologista, Mestre e doutor em Infectologia pela EPM/Unifesp, pós-doutorado pelo Center for Antiinfective Research and Development, Hartford Hospital, Hartford, Connecticut, USA, Lider medico de Infectologia, HCor, São Paulo—SP.
Texto: Jornalista Carina Gonçalves (MTB: 48326) - SBCM