Embora as estatinas tenham um uso amplo na prevenção das síndromes isquêmicas coronarianas, acidentes vasculares cerebrais e outras doenças cardiovasculares, existe a possibilidade de que esta classe de drogas possa ter efeitos negativos em alguns pacientes cardíacos. Um novo estudo apresentado no congresso CHEST 2009, o 75º Congresso Anual do American College of Chest Physicians, realizado na Califórnia, concluiu que as estatinas têm efeitos benéficos em pacientes com insuficiência cardíaca sistólica (ICS), mas, naqueles com insuficiência cardíaca diastólica (ICD), ocorre o efeito oposto, incluindo o aumento da dispnéia, fadiga e diminuição da tolerância ao exercício.

Pesquisadores da Northeastern University e do Massachusetts General Hospital, em Boston, avaliaram retrospectivamente os prontuários de 136 pacientes com insuficiência cardíaca, a fim de examinar o efeito das estatinas sobre a função pulmonar e a tolerância ao exercício em pacientes com insuficiência cardíaca diastólica versus insuficiência cardíaca sistólica. Um grupo de 75 não-usuários de estatina (82% com ICD) foi comparado com um grupo de 61 usuários de estatina (72% com ICD). A atorvastatina foi prescrita em 75% dos participantes tratados com estatinas.

Os resultados da análise indicaram que a função global e a tolerância a exercícios de pacientes no grupo estatina foram significativamente menores do que dentre os pacientes no grupo sem estatina. Outras análises de subgrupo revelaram que as medidas da função pulmonar no grupo estatina ICD foram 12% menores do que as medidas no grupo de estatina sem insuficiência cardíaca diastólica. Além disso, a quantidade de exercício realizada por pacientes com ICD que estavam em uso de estatina foi quase 50% menor do que aqueles com ICD e que não estavam em uso de uma estatina.

Segundo o pesquisador Lawrence P. Cahalin, um dos autores da pesquisa, a insuficiência cardíaca sistólica está mais frequentemente relacionada à doença coronariana e parece ter mais de um componente inflamatório do que a ICD. Assim, seria possível que as estatinas poderiam ajudar mais os pacientes com insuficiência cardíaca sistólica, em comparação com pacientes com insuficiência cardíaca diastólica, devido à redução do colesterol e dos efeitos antiinflamatório das estatinas.

Ainda segundo os autores, alguns pacientes com insuficiência cardíaca diastólica podem ser mais propensos aos efeitos adversos das estatinas nos músculos. Pode ser que os pacientes com certos fatores preexistentes venham a experimentar resultados desfavoráveis de tratamento com estatinas, incluindo a intolerância ao exercício, dispnéia e fadiga.

Apesar de os novos dados sugerirem que as estatinas possam realmente agravar os sintomas em pacientes com ICD, os pesquisadores consideram que os benefícios do uso das estatinas em pacientes com ICS e ICD superam os riscos de seu uso. Entretanto, se pacientes que usam estatinas evoluírem com falta de ar, cansaço, e se apresentem com incapacidade de exercer ou executar tarefas, deverão ser realizados exames de avaliação da força e resistência muscular, assim como avaliação da função pulmonar e de tolerância ao exercício físico.

Fonte: CHEST 2009 - 75th annual international scientific assembly of the American College of Chest Physicians. Press release. 02 de novembro de 2009.