Encontra-se já estabelecido que a hipotermia terapêutica oferece um benefício de sobrevida para os pacientes em parada cardíaca. Em estudos anteriores, a hipotermia foi iniciada no hospital entre 30 minutos e duas horas depois da parada cardíaca. Agora, existem indicações de que um sistema de resfriamento pré-hospitalar do cérebro através de sondas colocadas nas narinas, semelhantes às usadas para administrar oxigênio, seria capaz de levar a um maior grau de preservação cerebral e a uma maior sobrevida em pacientes vítimas de parada cardíaca submetidos a ressuscitação cardiopulmonar (RCP). Os melhores resultados seriam observados em pacientes nos quais as manobras de RCP iniciou-se dentro de 10 minutos após a parada cardíaca.

Os resultados do estudo Pre-Resuscitation Intranasal Cooling Effectiveness (PRINCE) foram apresentados em novembro no Congresso 2009 da American Heart Association, realizado em Orlando, Flórida. O estudo PRINCE foi uma tentativa de iniciar a hipotermia terapêutica fora do hospital durante a RCP, utilizando um sistema transnasal que apresenta uma mistura refrigerante volátil e oxigênio através das narinas, sob os grandes vasos do cérebro.

Segundo os pesquisadores do Karolinksa Institute, na Suécia, responsáveis pelo estudo, a evaporação do gás resfria a cavidade nasal rapidamente para cerca de 2°C e, de lá, o frio é transmitido ao cérebro. Eventualmente, o resto do corpo também esfria, mas é o cérebro que é o objetivo principal da técnica de resfriamento. O dispositivo é portátil, abrigado em uma mochila pesando cerca de 12 quilos, e não há necessidade de uso da eletricidade. Sua aplicação demora cerca de um minuto, e, no intervalo de 30 a 60 segundos, inicia-se o processo de refrigeração.

No estudo, 200 pacientes que sofreram uma parada cardíaca testemunhada, com RCP iniciada dentro de 20 minutos, foram selecionados para refrigeração transnasal pré-hospitalar ou para cuidados de suporte de vida avançado padrão em Cardiologia (ACLS). O resfriamento foi iniciado tão logo possível, sem interferir com os protocolos do ACLS, com pacientes em ambos os grupos recebendo hipotermia terapêutica ao serem admitidos no hospital. Dentre os participantes, 18 foram excluídos por apresentarem alguns critérios de exclusão. Ao final, restaram 83 pacientes no grupo do resfriamento intranasal e 99 no grupo de cuidados tradicionais de ressuscitação. E a temperatura do tímpano que se buscava atingir foi de 34oC.

A tabela abaixo mostra os eventos adversos observados nos dois grupos.

Tabela. Estudo PRINCE: Eventos adversos com resfriamento intranasal versus atendimento tradicional sem resfriamento intranasal

Eventos relacionados ao dispositivo Resfriamento intranasal (n=83), n (%) Sem resfriamento intranasal (n=99), n (%)

Descoloração nasal

13 (15,6)

0 (0)

Epistaxe

3 (3,6)

0 (0)

Sangramento perioral

1 (1,2)

0 (0)

Enfisema periorbital

1 (1,2)

0 (0)

Eventos adversos sérios não relacionados ao dispositivo em pacientes admitidos no hospital (sepse, IAM, nova parada cardíaca)

6/30 (20)

14/42 (33,3)

Embora o estudo não tenha sido desenhado para analisar a eficácia da técnica, entre os pacientes internados em hospital que receberam cuidados padrão, 31,1% sobreviveram versus 46,7% dos que receberam resfriamento intranasal (p = 0,15), não tendo sido esta uma diferença estatisticamente significativa.

Quando avaliada a sobrevida na alta hospitalar em 75% dos pacientes que receberam RCP dentro de 10 minutos após a parada cardíaca, observou-se um aumento significativo de 29,4% no grupo padrão para 59,1% no grupo de refrigeração intranasal (p = 0,028).

Fonte: Bibliomed, 24 de novembro de 2009.

American Heart Association Scientific Sessions 2009. Abstract 13.