De acordo com o ortopedista Rogério Teixeira da Silva, do Comitê de Traumatologia Esportiva da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), estes números alarmantes refletem uma realidade no País. “A dor continua uma condição subdiagnosticada e subtratada no Brasil. Ainda falta a conscientização sobre a importância de fazer uma correta avaliação da dor usando escalas objetivas, que quantificam a dor e facilitam a vida do paciente e do médico, no que diz respeito ao tratamento”, afirma.

O especialista explica que a Organização Mundial da Saúde até estabelece alguns princípios para o tratamento da dor, entre eles a escala analgésica, que institui o tipo de medicamento conforme a intensidade da dor. “Em muitos serviços, o conhecimento disso já bastaria para que os medicamentos mais eficazes fossem usados. O que observamos de rotina é que as dores mais intensas e as dores crônicas são pouco tratadas, ou pelo desconhecimento da ação do medicamento ou pelo receio das complicações”, explica.

O ortopedista alerta ainda sobre o uso abusivo de anti-inflamatórios para o tratamento da dor. “O uso deste medicamento sem orientação leva a uma série de problemas para o paciente, como complicações renais e hepáticas”, explica Teixeira.

Onde dói mais

O Epidor também analisou a relação do local da dor com o tipo de tratamento escolhido. De acordo com o estudo, 22% das pessoas têm dor nos membros inferiores, 21% nas costas e 15% dor na cabeça. “O mais alarmante é que, apesar das pessoas sofrerem com dor, muitas delas não buscam tratamento”, explica Maria do Rosário Dias de Oliveira Latorre, do Departamento de Epidemiologia da FSP/USP, coordenadora do estudo.

O Epidor mostrou que, entre as pessoas que apresentam dor nas costas, 45,1% não usavam nenhum tipo de tratamento. Este número é de 54,6% para pessoas que apresentam dor nos membros inferiores.

Principais constatações da pesquisa, feita com 2.446 entrevistados no município de São Paulo com idade superior a 18 anos

• Quanto maior a escolaridade, menor a prevalência de dor. Entre as pessoas com mais de 15 anos de estudo, a prevalência é de 23,5%. Entre os analfabetos, é de 33,7%.

• Há grande prevalência de dor crônica entre as donas de casa (33,3%), aposentados (36%) e autônomos (35,7%).

• Das pessoas que apresentaram dor crônica:

 

- 22% têm dor nas pernas e pés

- 21% têm dor nas costas

- 17% dores no peito

- 15% dores de cabeça

- 12% dores nos braços e mãos

- 12% têm dor em múltiplos locais

• Localização da Dor versus Tratamento – O estudo mostrou também que entre as pessoas que apresentam dor nas costas, 45,1% não utilizam nenhum tipo de tratamento e 54,6% das pessoas que apresentam dores crônicas nos membros inferiores não utilizavam nenhum tipo de tratamento também.

Mapa da Dor em SP

O estudo comprovou que uma das características mais associadas à alta prevalência de dor é a escolaridade, muito mais do que a renda. O segundo indicador com mais correlação com o mapa da dor é o número de moradores por domicílio. Com o Mapa da Dor, é possível traçar um ranking dos bairros de São Paulo que apresentam mais dor e os que apresentam menos dor.

Os bairros que apresentaram maior índice de dor crônica, segundo o estudo, foram Aricanduva (67%), Socorro (65%), Cachoeirinha (52,1%) e Santo Amaro (49%). “Uma das surpresas do estudo foi a inclusão de bairros como Itaim Bibi (48%) e Morumbi (45%) entre as regiões com alta prevalência de dor. Isto mostra que apesar da estatística relacionar a dor crônica com baixa escolaridade da região, ela está presente em todos extratos sócio-econômicos da sociedade”, explica Maria do Rosário.

Prevalência das dores crônicas, de acordo com os dados da Epidor

• Na população em geral: 28,7%

• Nos homens: 20%

• Nas mulheres: 34%

• Entre pessoas jovens, de 18 a 29 anos: 20%

• Pessoas com sobrepeso e obesidade apresentaram prevalência maior de dor crônica que os indivíduos com peso normal. 32,6% dos obesos ouvidos no estudo apresentaram dor crônica e 30% das pessoas com sobrepeso relataram o mesmo problema

• 32,9% dos indivíduos com dor crônica não utilizaram nenhum medicamento nos últimos 12 meses