Pesquisadores descobriram uma nova forma de fazer um exame de tuberculose de forma rápida, barata e amplamente disponível: grandes roedores capazes de sentir o cheiro da bactéria numa amostra de catarro.

Há exames de laboratório caros e complicados para a tuberculose, e a Organização Mundial de Saúde recentemente endossou uma nova máquina capaz de fornecer resultados precisos em menos de duas horas. No entanto, o aparelho custa US$ 17 mil, e cada exame requer um cartucho de US$ 17.

Independente da opinião sobre os roedores, uma coisa é fato: eles são mais baratos.

Hoje, o método de detecção mais comumente usado em países em desenvolvimento é a microscopia. Essa técnica de 100 anos envolve a coleta do catarro, a aplicação de uma substância que colore apenas o "Mycobacterium tuberculosis", causador da tuberculose, e exame da amostra sob um microscópio.

A técnica pode ser utilizada em locais onde as instalações são mínimas, mas não é muito precisa _ a não ser que haja uma alta concentração deles, os bacilos passam facilmente despercebidos, e o resultado é que de 60 por cento a 80 por cento dos casos positivos podem não ser diagnosticados.

Estudos sugerem que o roedor "Cricetomys gambianus" pode ser uma boa opção. O animal onívoro com cauda e corpo parecido com o do rato pesa entre 4,5kg e 6,8kg, vivendo em colônias de até 20 bichos em toda a África sub-saariana.

Essa espécie aparentemente é capaz de sentir pelo cheiro a diferença entre os bacilos da tuberculose e outros germes que habitam a fleuma humana.

O principal autor de um dos estudos sobre os roedores, Alan Poling, professor de psicologia da Western Michigan University, disse que, embora os animais tenham sido aceitos como uma ferramenta diagnóstica razoável na Tanzânia, "a comunidade médica ainda está cética".

Em artigo publicado na edição de dezembro do "American Journal of Tropical Medicine and Hygiene", Poling e colegas reportam um exame em que os roedores usaram mostras que foram confirmadas por cultura de laboratório como positivas ou negativas.

A sensibilidade dos animais _ isto é, sua capacidade de detectar a presença da tuberculose _ chegou até 86,6 por cento, e sua especificidade, ou capacidade de detectar a ausência do germe, foi de mais de 93 por cento.

Em outro teste que comparou o sucesso dos roedores com a microscopia, os animais detectaram 44 por cento mais casos positivos.

Os redores, criados em cativeiro, são todos descendentes de animais capturados nas Montanhas Uluguru, na Tanzânia, ou nos arredores de Morogoro, uma cidade de 200 mil pessoas nas montanhas. Trata-se da mesma espécie que foi treinada para sentir o cheiro de minas terrestres (os bichos são leves o suficiente para não detoná-las).

Os recém-nascidos abrem os olhos com cerca de 4 semanas e imediatamente começam um programa de habituação e socialização. Quando os roedores têm cerca de 8 semanas, os treinadores colocam amostras de catarro, positivas e negativas para tuberculose, em "buracos para cheirar" numa jaula especialmente projetada.

Quando um roedor passa pelo menos cinco segundos numa amostra positiva, ele é recompensado com amendoim e banana. No fim, o roedor acaba aprendendo que uma cheirada mais longa numa amostra positiva gera uma recompensa, e que amostras negativas são improdutivas e devem ser descartadas logo.

Quando os roedores completam 26 semanas, alguns são "reprovados" no teste, mas os mais espertos viram especialistas.

Mas alguns estudiosos têm dúvidas.

"Ainda falta muito para que eles demonstrem a robustez de sua técnica", disse o Dr. Neil Schluger, professor de medicina da Columbia University e especialista em doenças pulmonares.

"Esses roedores são capazes de coisas incríveis", continuou, "mas mesmo que aceitemos que isso tenha funcionado em laboratório, será que os roedores ainda serão bons um ano depois? Eles devem ser treinados pela mesma pessoa? Como devemos cuidar deles? Se mudarmos a jaula ou o ambiente onde dormem, a técnica ainda funciona?"

Poling reconheceu que a pesquisa com roedores ainda estava em estágio preliminar. Porém, ele afirmou: "Acreditamos que no final haverá um lugar para eles nos exames iniciais".

Poling diz gostar desses roedores.

"São animais bonitos. Eles nos seguem, vêm quando chamamos", disse.

"Se eles não tivessem essa cauda longa e escamosa", ele acrescentou, "seriam animais adoráveis".

Tradutor:
Gabriela d'Ávila
Por Nicholas Bakalar
The New York Times