» DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR

Médico, professor de pediatria emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatra, membro titular da Academia Brasileira de Pediatria e

presidente do Global Pediatric Education Consortium (Gpec) 

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Publicação: 13/12/2016 04:00

 

 

O Natal é a rememoração do nascimento de uma sublime criatura humana, o menino Jesus. Acolhido num berço familiar marcado pela pobreza material, mas transbordante em afeto, ternura, aconchego parental e respeito reverencial à criança recém-nascida, aquele ser humano, gerado em Belém foi carinhosamente amamentado por sua mãe, protegido, estimulado, educado em família. Graças ao crescimento e desenvolvimento saudáveis, adquiridos ao longo da infância e adolescência, chegou à vida adulta com o fulgor que iluminou o exercício de sua tão grandiosa liderança, integralmente comprometida com as transformações imprescindíveis para a humanização da sociedade. Sua louvável biografia foi consagrada como um divisor de águas que qualifica a história da humanidade. 

 

Dois magníficos conceitos emanam desse capítulo magistral da história. Merecem, consequentemente, um enfoque elucidativo especial. Ambos traduzem a sabedoria que cidadãos da época, formados na forte cultura religiosa de então, foram capazes de manifestar. O primeiro deles refere-se à identificação do menino Jesus como filho de Deus. Revela o caráter divino que deve ser atribuído à criança, entendida como o ser humano na fase existencial mais próxima da fonte de vida. O outro corresponde à expressão “Sagrada Família”, com a qual foi realçada a importância de um casal no cumprimento de abrangente missão, eivada de ilimitados pendores. É a evidência perceptiva, desde primórdios tempos, do sagrado papel que cabe à família como útero social da humanidade. 

 

Incorporados por sucessivas gerações, esses dois valores tornaram relevantes os componentes primordiais do legítimo humanismo, livre de preconceitos, segregacionismos e iniquidades que a sociedade ainda não soube desfazer. Dada a grandeza de que se revestem, foi escolhida a data de 25 de dezembro do calendário internacional para a comemoração anual do nascimento do menino Jesus, que se consolidou como o dia do Natal. 

 

As homenagens à infância passaram a ser o cerne dessa iniciativa. Criou-se a tradição do presente de Natal, um gesto mavioso do culto ao divino mérito da infância, celebrizado ao longo dos séculos. A figura do Papai Noel projetou-se na conjuntura ética e igualitária que impregnou as iniciativas natalinas. Sua imagem simbolizava a ação caridosa de alguém que obtinha doações e as convertia em brinquedos entregues às crianças cujas famílias não possuíam recursos para fazê-lo. O genuíno personagem Noel, isento de interesses outros, foi progressivamente integrado ao protagonismo das crenças e ritos que celebram o nascimento do menino Jesus. 

 

O clima amável e efusivo do Natal é o melhor alicerce de uma sociedade. Consiste na mais autêntica aproximação entre as pessoas. Evoca os eflúvios dos nobres sentimentos que ainda resistem inabaláveis nas entranhas mentais de cada um. Por isso mesmo, deveria expandir-se ao longo do ano como a espontânea linguagem comunicativa que vem das profundezas da alma. Seria a contínua expressão de uma alteridade serena, inspirada na riqueza emocional que caracteriza os festejos natalinos. O brilho espiritual do afeto inerente à relação humana venceria o obscurantismo do cotidiano, lançando efeitos radiosos da mais pura interação que anima a harmonia comunitária. 

 

A leveza de tão afável atmosfera, respirada coletivamente no mesmo período de cada ano, traduz a síntese da valiosa paisagem humanista, que é, sem dúvida, o principal conteúdo do calendário. Equivale ao componente socioambiental que justifica a qualidade sapiens da espécie, porquanto preserva primores éticos e sociais advindos de um fulgurante passado que se mantém presente. 

 

Se esse contexto primoroso, que cala fundo nos sentimentos de grandes populações do planeta, propagar-se por toda a existência do indivíduo, independentemente da data específica do calendário, as transformações inadiáveis para os avanços evolutivos de que depende o futuro da espécie resultarão de um projeto cujos ingredientes serão todos oriundos da substância natural do amor. 

 

O fortalecimento da família como ambiente síntese da estima, afeto, carinho e ternura é fertilizante indispensável ao desabrochar da educação frondosa como verdadeira árvore de Natal, de cujos frutos depende a adequada nutrição da sociedade. Com o núcleo familiar assim valorizado, a criança voltará a ser a estrela-guia para os investimentos contínuos e prioritários capazes de desenvolver todas as suas virtudes potenciais, perpetuando-se a luminosidade de vida que a infância sempre possui.

 

Fonte: Correio Brasilienze Impresso | Opinião