Um estudo feito com 200 mil mulheres pode ajudar na detecção de um tumor que está entre os mais difíceis de serem diagnosticados: o câncer de ovário. Publicada na revista "Lancet Oncology", a pesquisa avaliou dois testes: o ultrassom e um exame de sangue que identifica um composto chamado CA 125.

No grupo que fez os dois exames juntos, 90% dos casos de câncer de ovário foram identificados. O ultrassom sozinho detectou 75% dos casos. Para os cientistas, o resultado é encorajador porque quase metade dos tumores foram diagnosticados nas fases iniciais, quando a chance de sobrevida é de 90%.

No Brasil, recomenda-se que mulheres na pós-menopausa passem por ultrassonografias rotineiras uma vez por ano, mas o objetivo principal é avaliar o endométrio (camada que reveste o útero internamente), diz o ginecologista Luciano Pompei, membro da diretoria da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).

O teste de CA 125 não é muito específico para câncer --pode dar positivo em condições benignas- e só costuma ser indicado quando há formações suspeitas no ovário ou para monitorar um câncer já detectado.

Segundo Pompei, há controvérsias na literatura médica sobre a capacidade de a ultrassonografia detectar o câncer de ovário em fase suficientemente precoce. Ele acredita que mais pesquisas são necessárias para que a conduta preconizada no estudo se torne rotina.

Para o ginecologista Cláudio Bonduki, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o teste de CA 125 pode até ser solicitado a pacientes de risco, mas um ultrassom bem feito é suficiente para detectar tumores de ovário.

Maria del Pilar Diz, oncologista do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira, considera o resultado "bastante lógico" e afirma que até agora as sociedades médicas não indicavam o rastreamento sistemático do câncer de ovário porque nenhum exame sozinho tinha sido capaz de fazer o diagnóstico sem dar muitos resultados falsos positivos.

Os pesquisadores dizem que é preciso esperar para ver se os exames vão ter impacto na taxa de mortalidade por câncer de ovário e se trazem bom custo-benefício. Esse tipo de tumor é muito letal, apesar de não estar entre os mais prevalentes.

Fonte: FSP, 12 de março de 2009.