A sobrevida de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) com complicações graves causadas pelo câncer aumentou no Brasil nas últimas décadas. Eles foram acompanhados por até 90 dias após deixarem o hospital. O resultado está em um estudo produzido pela Rede Brasileira de Pesquisas em Cuidados Intensivos. O trabalho brasileiro é um dos únicos no mundo que acompanharam pacientes com câncer nas unidades de terapia intensiva nos últimos dez anos.

De acordo com os dados obtidos no país, o índice de sobrevida passou de 40%, nos anos 1980, para 70% no ano passado. Essa taxa, segundo os pesquisadores, é semelhante às encontradas em centros de excelência na França e na Suíça. A pesquisa, coordenada pelos médicos intensivistas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) Marcio Soares e Jorge Salluh, coletou dados em 28 UTIs públicas e particulares, acompanhando a evolução de 746 pacientes durante a internação e após a alta.

"Antes as complicações eram vistas como terminais e existia uma discussão se era adequado que esses pacientes ocupassem um dos escassos leitos de UTI", disse Soares, acrescentando que a terapia intensiva e a oncologia são duas das áreas em que a medicina mais avançou nas últimas décadas.

Entre os resultados do estudo, descobriu-se que um quinto (21%) dos leitos de UTI são de pacientes internados com câncer. Metade é internada por causa de procedimentos ligados ao tratamento, como pós-operatório de grandes cirurgias, e o restante por complicações agudas decorrentes do tratamento (quimioterapia ou radioterapia) ou por outras razões não relacionadas à doença, como enfarte e diabete.

Mortalidade

A sobrevida, como a literatura médica demonstra, foi maior no primeiro grupo - internações ligadas ao tratamento. Enquanto nos anos 80 a mortalidade era de pelo menos 60%, agora é de cerca de 30%. Nos casos de internações por complicações agudas, a mortalidade chegava a 95%, no mesmo período, e atualmente é de 43%. A íntegra da pesquisa está sendo submetida à revisão para publicação em uma revista científica especializada. Além da sobrevida, foram analisadas as razões de internação e as complicações mais frequentes, mas os dados ainda não foram todos divulgados. Todos os pacientes foram acompanhados pelos pesquisadores entre agosto e setembro de 2007 e reavaliados 90 dias depois.
Fonte:OESP, 25 de março de 2009