Observar como pacientes bipolares lidam com o estresse e tentar ajudá-los a gerenciar melhor essas habilidades. Esse é o tema de uma pesquisa que está sendo feita no Instituto de Psiquiatria (IPq) da USP, em São Paulo, por Érika Leonardo de Souza, pesquisadora da Faculdade de Medicina e ligada ao Programa de Estudos de Doenças Afetivas (Progruda).

“Os pacientes bipolares, assim como todo mundo, utilizam determinadas estratégias cognitivas para lidar com situações difíceis que levam ao estresse”, explica Érika. “O que acontece é que nem sempre eles lidam com isso da melhor maneira. Determinadas estratégias podem parecer ajudar, em um primeiro momento, mas não necessariamente é a melhor maneira de enfrentar a situação.”

De uma maneira geral, a principal característica do Transtorno Afetivo Bipolar é a presença de instabilidade ou oscilação do humor. A pessoa com este diagnóstico apresenta fases de depressão tornando-se mais apática, quadro este alterado pelas fases de mania ou euforia. nas quais o paciente pode se irritar facilmente, o fluxo de idéias, torna-se acelerado e a pessoa fica mais agitada . A alegria ou a excitação que normalmente as pessoas sentem não é tão inconstante como observado nas pessoas sem este transtorno. Nos indivíduos bipolares estas oscilações além de oferecerem risco, podem vir a durar dias, semanas ou meses (para saber mais leia “5 coisas sobre Transtorno Bipolar do Humor”)

Gerenciar os elementos estressores

No estudo, a partir da observação de três grupos distintos – dois formados por indivíduos bipolares e um grupo de pacientes sem o transtorno – a pesquisadora tenta identificar, num primeiro momento, essas estratégias de coping. O termo se refere ao modo como as pessoas enfrentam os problemas, ou ainda, como elas lidam com determinadas situações.

A partir da identificação de como cada um desses pacientes enfrenta, ou lida, com os problemas e elementos estressores, diz a pesquisadora, é possível ajudá-los a gerenciar melhor essas respostas. “Esses pacientes normalmente lidam com os problemas de forma não adaptativa, ou seja, respondem inadequadamente aos problemas e consequentemente podem ter uma piora na qualidade de vida. Um exemplo simples disso é fumar para aliviar o estresse. Pode ajudar por um lado, mas não ajuda a lidar com os problemas de uma forma definitiva e ainda piora a saúde do indivíduo.”

“Mas o coping é algo que pode ser modificado. E queremos desenvolver determinados treinos que ajudem os pacientes com isso.” Uma das hipóteses de Érika é que os traços de personalidade também influenciam nas estratégias de coping desses indivíduos. Identificar esses traços e aprender a lidar com eles é uma forma de, em longo prazo, também ampliar o tratamento e reversão de um enfrentamento não adaptativo para um tipo de coping mais eficiente e que traga mais qualidade de vida para essas pessoas que sofrem com o transtorno bipolar.

“Os pacientes bipolares são mais vulneráveis a situações de estresse e aprendendo como modificar seus esquemas de coping ou enfrentamento podemos ajudá-los a administrar melhor sua vida e lidar com o transtorno”, completa Érika.