O Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19 da Associação Médica Brasileira (CEM COVID_AMB) vem a público compartilhar informações sobre a importância da identificação, investigação e tratamento dos portadores da Síndrome de Covid-19 longa. Apresentamos abaixo alguns pontos sobre a síndrome, com o objetivo de auxiliar na divulgação desta condição clínica, que pode acometer pacientes que apresentaram desde formas leves a graves da Covid-19.

 

  • De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e com base nos dados atuais, a terminologia “condições pós-Covid” foi adotada pelo Ministério da Saúde para descrever novas manifestações clínicas, recorrentes ou persistentes presentes após a infecção aguda por SARS-CoV-2. Na literatura, as manifestações clínicas também são descritas como Covid longa, Covid-19 pós-aguda, síndrome pós-Covid, efeitos de longo prazo da Covid, síndrome Covid pós-aguda e Covid crônica. Embora não haja um consenso sobre as definições de caso, as condições pós-Covid podem ser consideradas como as manifestações clínicas que implicam em não restabelecimento do estado prévio de saúde do indivíduo após a fase aguda da doença e que não sejam atribuídas a outras causas.
  • Definição: sinais e sintomas que se desenvolvem durante ou após o diagnóstico de Covid-19, que persistem por mais de 12 semanas e não são explicados por diagnóstico alternativo. É um grupo de sintomas, muitas vezes sobrepostos, que pode flutuar com o tempo e afetar qualquer sistema do corpo. O diagnóstico da síndrome pode ser considerado antes de 12 semanas após o quadro agudo, enquanto a possibilidade de diagnóstico alternativo está em investigação.
  • Os sintomas da Covid-19 longa são comuns em outras doenças potencialmente graves, portanto, o diagnóstico desta síndrome deve ser estabelecido somente após a exclusão de diagnósticos possíveis, para garantir a segurança do paciente.
  • Embora ocorra principalmente em indivíduos recuperados de casos graves e muito graves, o quadro também pode ocorrer naqueles que tiveram doença leve, que não foram hospitalizados e até em assintomáticos. A influência do sexo, gênero, idade, raça, comorbidades e carga viral na síndrome não está estabelecida.
  • A prevalência dos sintomas é variável e depende do tempo de avaliação após a fase aguda da doença. Até 80% dos indivíduos com diagnóstico confirmado de Covid-19 continuam apresentando pelo menos um sintoma duas semanas após a infecção aguda. Foram identificadas até 55 manifestações, sendo que as mais comuns são fadiga, alterações pulmonares clínicas, funcionais e/ou radiológicas, anosmia e distúrbios neurológicos. Entre três e seis meses, mais de 35% dos indivíduos recuperados mantém pelo menos um sintoma. Importante frisar que alguns sintomas de Covid-19 longa não estão presentes na fase aguda da doença. A síndrome ocorre dentre 10% a 30% de indivíduos acometidos pela doença, sendo que geralmente até um terço destes pacientes estavam inicialmente assintomáticos.

 

  • Os sintomas estão associados ao comprometimento de diferentes sistemas:

- Respiratório: fadiga, dispneia, tosse e dor de garganta. 

- Neurocognitivo e psicológico: “brain fog” (confusão, esquecimento, distração, dificuldade de concentração), tontura, disgeusia, anosmia, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e insônia.

-  Cardiovascular: dor torácica, taquicardia e palpitações. 

- Gastrointestinal: diarreia, dor abdominal, vômitos e músculo esquelético. 

- Osteoarticular e muscular: mialgias e artralgias.

- Cutâneo: perda de cabelo (eflúvio telógeno) e erupções cutâneas.

 

  • Os pacientes devem ser esclarecidos sobre os possíveis sintomas da Covid-19 longa e uma consulta de seguimento deve ocorrer seis semanas após a alta hospitalar, para identificar os pacientes que necessitam de investigação adicional.
  • O planejamento do atendimento a estes pacientes deve envolver os gestores em todos os níveis de atenção à saúde, os profissionais de saúde, os pesquisadores e os educadores, para permitir o reconhecimento dos sintomas de Covid-19 longa e estabelecimento da investigação e tratamento necessários.
  • Recomenda-se manejo pragmático, com ênfase em suporte abrangente, evitando investigações excessivas. O cuidado integral de um paciente com Síndrome de Covid-19 longa deve abordar:

- Avaliação e manejo de comorbidades descompensadas, como diabetes e hipertensão, DPOC, asma, cardiopatia isquêmica, entre outras. 

- Atenção e cuidados gerais de saúde, relativos à alimentação adequada, prevenção e tratamento do tabagismo e uso de álcool, promoção da qualidade do sono.

- Avaliação funcional, envolvendo sintomas musculoesqueléticos, cognitivos, neurológicos e a fadiga.

- Evitar a instalação de novas incapacidades secundárias.

- Estabelecer equipe de saúde treinada para reconhecer e tratar estes sintomas de forma adequada.

- Orientação e acompanhamento para aumento gradual de exercício físico, se tolerado, e retorno às atividades habituais.

- Atenção à saúde mental por meio da escuta com empatia, avaliação e tratamento de problemas, pactuação de metas factíveis, entre outras abordagens.

 

Referências:

1. Araújo, B., Letícia Aparecida Lopes Bezerra da Silva, L.A.L.B., Melo, R.B., Domene, F.M., Da Silva, J.L., Milhomens, L.M., Bortoli, M.C., Toma, T., Barreto, J.O.M. (2021). Manifestações clínicas e laboratoriais pós-covid - Revisão rápida. DOI: 10.13140/RG.2.2.20081.81763. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/355752133_Manifestacoes_clinicas_e_laboratori ais_pos covid_-_Revisao_rapida.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. Nota Técnica nº 62/2021. Dispõe sobre Retificação da Nota Técnica Nº 60/2021- Secovid/GAB/Secovid/MS, elaborada em conjunto das áreas competentes, a fim de complementar as informações referentes às manifestações clínicas das condições póscovid. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoestecnicas/notas-tecnicas).

3. BRASIL. Ministério da Saúde. Telessaúde RS. UFRGS. Avaliação e manejos dos sintomas prolongados de COVID-19. Porto Alegre. 2020.

4. UK, National Institute for Health and Care Excellence (NICE). COVID-19 rapid guideline: managing the longterm effects of COVID-19. 2022.

5. Lopez-Leon S, Wegman-Ostrosky T, Perelman C, Sepulveda R, Rebolledo PA, Cuapio A, et al. More than 50 long-term effects of COVID-19: a systematic review and meta-analysis. Sci Rep. 2021;11(1):16144.

6. Rubin R. As Their Numbers Grow, COVID-19 “Long Haulers” Stump Experts. JAMA. 2020;324(14):1381–1383. doi:10.1001/jama.2020.17709; Logue JK, Franko NM, McCulloch DJ, et al. Sequelae in Adults at 6 Months After COVID-19 Infection. JAMA Netw Open. 2021;4(2):e210830. doi:10.1001/jamanetworkopen.2021.0830)

7. Taquet M, Dercon Q, Luciano S, Geddes JR, Husain M, Harrison PJ. Incidence, cooccurrence, and evolution of long-COVID features: A 6-month retrospective cohort study of 273,618 survivors of COVID-19. PLoS Med. 2021;18(9):e1003773.

8. Townsend L, Dowds J, O'Brien K, Sheill G, Dyer AH, O'Kelly B, et al. Persistent Poor Health after COVID-19 Is Not Associated with Respiratory Complications or Initial Disease Severity. Ann Am Thorac Soc. 2021;18(6):997-1003

 

São Paulo, 25 de abril de 2022.

Sobre o CEM COVID_AMB

A Associação Médica Brasileira (AMB) e sociedades de especialidade médica diretamente relacionadas a assistência de pacientes acometidos pelo vírus SARS-Cov2 criaram o Comitê Extraordinário de Monitoramento Covid-19, CEM COVID_AMB, aos 15 de março de 2021.

O CEM COVID_AMB monitora permanentemente a pandemia em todo o território nacional e as ações dos órgãos responsáveis pela saúde pública, com o intuito de consolidar informações e, a partir de retratos atualizados, transmitir orientações periódicas de conduta para cuidados e prevenção aos cidadãos e aos profissionais da Medicina.

Iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira com as de especialidades, o CEM também tem apoio de associações estaduais federadas e de regionais das sociedades médicas. Em seu primeiro boletim, trouxe mensagem que leva à reflexão por se manter absolutamente atual.

“Nós, os médicos, estaremos sempre disponíveis para ajudar; e ajudaremos. Mas não trazemos a solução; hoje não a temos. A solução para a Covid não está nas mãos de mais de meio milhão de médicos do Brasil. Será resultado das atitudes responsáveis e solidárias de cada um dos cidadãos do País e das autoridades públicas responsáveis por implantar as medidas efetivas que se fazem necessárias para mitigar a enorme dor e sofrimento da população brasileira”.

A composição de membros do Comitê está em https:/amb.org.br/cem-covid/cem-covid e, assim como os demais conteúdos do CEM COVID_AMB, passam por atualização permanente.