São Paulo - Pesquisadores de São Paulo desvendaram a composição genética que torna o coração uma bomba-relógio. Durante um ano, 350 mil genes humanos foram mapeados e oito deles identificados como os principais "culpados" do enfarte. O estudo foi conduzido pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e pela USP. Os médicos estão otimistas que vão encontrar a prevenção personalizada para a doença, que faz 100 mil vítimas e mata 35 mil brasileiros por ano.

"Conseguimos mapear qual é a rota percorrida dentro do organismo que termina no enfarte", fala o cardiologista do Dante Marcelo Sampaio, que liderou a pesquisa junto com o médico Mário Hirata, da USP. Esta foi a primeira etapa da pesquisa, inédita na América Latina, que está programada para se estender até o final de 2010 mas deve demorar para virar realidade nos laboratórios.

"Quando o estudo estiver plenamente concluído será possível atestar em uma pessoa de 20 anos se ela possui os genes do enfarte e adotar medidas preventivas", completa Sampaio. "A prevenção não precisa ser só remédio. Pode ser indicação de uma rotina mais expressiva de exercício físicos ou atenção maior ao colesterol."

Contribuíram para o primeiro mapa do enfarte 10 pacientes da capital, todos eles que sofreram ataques cardíacos entre 2006 e 2007. Quando deram entrada no hospital, o sangue foi coletado e enviado para institutos internacionais onde o material foi analisado geneticamente. Na próxima fase, outros 100 enfartados serão mapeados.Os genes do enfarte ainda são mantidos em sigilo, porque uma das propostas é patenteá-los para a produção de medicamentos. O que já foi revelado é que todos os oito genes são ligados ao processo inflamatório.

"Isso orienta a produção de drogas preventivas, já que os fármacos atuais combatem as consequências do enfarte e não a prevenção", diz Sampaio. No grupo, cinco pacientes sofreram enfarte pela segunda vez. Outra descoberta foi que os genes para a reincidência são diferentes, o que indica que o tratamento não pode ser o mesmo nos dois casos.

Prevenção

Antônio Carlos Chagas, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, reforça que a busca por marcadores genéticos das doenças cardiovasculares tem sido intensa nos últimos 20 anos. Mas para tirar o título de problema que mais mata paulistanos, com 360 casos por 100 mil habitantes, Chagas diz que a receita já é velha conhecida. "Temos uma cardiologia de ponta, mas uma política preventiva ainda muito ineficiente, com apenas 16% dos que sofrem de pressão alta em tratamento e 40% das pessoas nunca fizeram testes para diabetes."

Os fatores preventivos que são negligenciados são justamente os que mais aparecem nas estatísticas, como cita Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia do Hospital do Coração (Hcor)ao descrever o atual perfil do enfartado. "É o fumante, obeso e hipertenso". As informações são do Jornal da Tarde.
Fonte: Jornal da Tarde, 17 de fevereiro de 2009