Artigo de Luiz Guilherme Camargo de Almeida

Presidente da Regional Alagoas da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

 

Recentemente, fui chamado para dar um parecer sobre um caso na Sala de Emergência de um hospital filantrópico de Alagoas: um jovem de 18 anos havia ingerido uma grande quantidade de cápsulas de cafeína, resultando em intoxicação aguda. Situações como essa nos lembram da importância de entender e respeitar os limites do consumo de cafeína. Aqui, compartilho informações essenciais para o uso seguro e a prevenção do abuso de cafeína.

 

O Que é Cafeína?

A cafeína é um estimulante natural encontrado em várias plantas, sendo mais consumida no café, chá, chocolate, refrigerantes e bebidas energéticas. Além disso, a cafeína é disponível em suplementos dietéticos e medicamentos.

Consumo Seguro

Para a maioria dos adultos, até 400 mg de cafeína por dia é considerado seguro. Isso equivale a cerca de quatro xícaras de café filtrado.

Já para crianças e adolescentes, o limite recomendado é de 2,5 mg por kg de peso corporal por dia. Por exemplo, um adolescente de 40 kg deve consumir no máximo 100 mg de cafeína por dia.

Perigos da Sobredose

Ingerir cafeína em excesso pode levar à intoxicação, cujos sintomas variam de agitação e náuseas a taquicardia e convulsões. Doses superiores a 150-200 mg por kg de peso corporal são potencialmente letais. Isso significa que um adulto de 70 kg atingiria uma dose tóxica ao ingerir entre 10.500 e 14.000 mg de cafeína, o que equivale a aproximadamente 167 a 222 xícaras de café expresso.

Como Prevenir o Abuso

  1. Educação e Consciência: Conheça os produtos que contêm cafeína e suas quantidades. Bebidas energéticas e suplementos podem conter doses muito concentradas.
  2. Moderação: Mantenha o consumo dentro dos limites seguros e evite a ingestão de múltiplos produtos com cafeína em curto intervalo de tempo.
  3. Atenção aos Sinais: Fique atento aos sintomas de consumo excessivo, como insônia, nervosismo, dores de cabeça e palpitações.
  4. Orientação Profissional: Se tiver dúvidas sobre o consumo de cafeína, consulte um médico ou nutricionista.

 

Tratamento de Intoxicação por Cafeína

Em caso de intoxicação, o tratamento pode incluir:

  • Hidratação Parenteral: Administração intravenosa de fluidos para aumentar a

diurese e equilibrar os eletrólitos.

  • Monitoramento Cardíaco: Para detectar e tratar arritmias.
  • Uso de Medicamentos: Benzodiazepínicos podem ser usados para controlar

convulsões e agitação.

  • Carvão Ativado: Se a ingestão for recente, para limitar a absorção da cafeína.
  • Hemodiálise: Em casos extremos, para remover a cafeína do sangue.

Conclusão

A cafeína é amplamente consumida e pode ser segura quando usada com moderação. No entanto, é fundamental estar ciente dos riscos de abuso e intoxicação. Educando-nos e monitorando nosso consumo, podemos desfrutar dos benefícios da cafeína sem colocar nossa saúde em risco. Lembre-se, qualquer dúvida ou preocupação deve ser discutida com seu médico clínico.

Artigo de Tycha Bianca Sabaini Pavan sobre pessoas que vivem com a co-infecção por Trypanosoma cruzi / HIV

Doença de Chagas

Descoberta em 1910, a doença de Chagas (DC) é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi) transmitido pelo contato com fezes ou urina de insetos infectados (barbeiros). Outras vias de transmissão podem ocorrer, como a oral por ingestão bebidas ou alimentos contaminados; via vertical; via transfusional de sangue e transplante de tecidos/órgãos; acidentes laboratoriais e; menos comumente, pela via sexual (modelo experimental). A DC acomete ~ 6 milhões de pessoas em todo o mundo. Representa a maior carga de doenças parasitárias em 21 países latino-americanos. No Brasil, estima-se que exista 1,1 milhão de pessoas nesta condição. Dados projetam uma perda anual de mais de 800.000 anos de vida ajustados por incapacidade.

O Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas da DC (2018) preconizado o emprego de dois testes sorológicos de metodologias distintas; em caso discordante, um terceiro teste deve ser utilizado para o diagnóstico, tendo como principais testes, ELISA, quimiluminescência e hemaglutinação indireta.

Aproximadamente, 60% das pessoas com DC não desenvolverão alteração clínica, sem alteração de sintomas ou sinais clínicos e eletrocardiograma e radiografia de tórax normais (forma indeterminada); até 30% poderão desenvolver alterações cardíacas; outros 10% poderão apresentar alterações digestivas como megaesôfago e/ou megacólon.

O HIV/aids

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos (2024), recomenda o diagnóstico a partir da coleta de sangue venoso ou digital para realização de testes rápidos ou laboratoriais, os quais detectam anticorpos contra o HIV. Em caso confirmatório, o início da terapia antiretroviral deve ser em até sete dias após o diagnóstico, devido à redução da morbimortalidade relacionadas à aids.

A reagudização da doença de Chagas O diagnóstico deve ser realizado pela visualização do T. cruzi por microscopia direta. Os critérios clínicos que podem estar presentes são os sinais de comprometimento do sistema nervoso central ou periférico, miocardite, pericardite, paniculite, febre, adenomegalia, hepatoesplenomegalia. Para confirmação de meningoencefalite deve realizar tomografia computadorizada ou ressonância magnética, associada a coleta de líquido cefalorraquidiano. Tratamento antiparasitário – benznidazol No caso de reagudização, as pessoas devem apresentarem contagem de células T CD4+ < 200 células/mm³, com sintais ou sintomas clínicos descritos acima somando à visualização do T. cruzi. O tratamento será com benznidazol (comprimido de 100mg), na dose de 5mg/kg/dia para adultos e 10mg/kg/dia para crianças, a cada oito horas, por um período mínimo de 60 dias e possivelmente estendido até 90 dias.

No Brasil, a disparidade no acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento ainda persiste, resultando em diagnósticos tardios, cobertura de tratamento insuficiente, dificuldade na continuidade do cuidado, consequente redução da sobrevida. Esta desigualdade reflete-se em diversos desafios enfrentados no enfrentamento da reagudização da doença de Chagas em diferentes regiões e populações do país.

*Tycha Bianca Sabaini Pavan

Possui Doutorado em Ciências (2014 - 2018) pelo depto. de Clínica Médica, com evidência no diagnóstico molecular pela falha terapêutica da doença de Chagas crônica sob regime de tratamento antiparasitário pela Unicamp / SP. Membro relatora do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz - Bahia (2022 - 2026). Coordenadora Geral de Campo do projeto "Avaliação de efetividade de um teste rápido e de tratamentos para doença de Chagas: Coorte Oxente Chagas Bahia (2023 - 2026). Coordenadora da Rede Internacional de Atenção e Estudos sobre a Coinfecção T.cruzi / HIV e outras Condições de Imunossupressão (2024 - 2026).

Obs: Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da SBCM.

O tabagismo é uma doença crônica, causada pela dependência física e psicológica da nicotina e tem relação com mais de 443 mortes por dia no Brasil (INCA). O fumo já foi símbolo de elegância, teve o consumo reduzido em meados dos anos 2000, mas voltou a ser moda entre os mais jovens com novas formas de consumo. “Apesar do cigarro não ter sido tão encarecido como ocorreu em países da Europa ou Estados Unidos, o Brasil havia reduzido muito a disseminação do tabagismo como status entre os jovens com a proibição na maioria dos ambientes fechados. Infelizmente, novos formatos de consumo, como vapes e pods têm tido novamente grande adesão e são muito mais nocivos, com procedência muitas vezes duvidosa e quase dez vezes mais nicotina no caso dos vapes ou sem filtro, no caso dos paieiros”, explica Dr. Rodrigo Paashaus, presidente da SBCM Goiás.

“As estatísticas dos ambulatórios indicam que 70% dos tabagistas só tentam parar de fumar após um infarto e costumam tentar em média sete vezes até conseguir abandonar o tabaco de vez”, conta o Clínico, que mostra seu lado humano ao contar sobre as próprias dificuldades de superação como tabagista desde a adolescência até o início da carreira como médico, tendo fumado seu último cigarro, do qual lembra até a data e o horário, há onze anos. Para manter-se longe, considera sempre que ainda não venceu completamente o vício: “se voltar a colocar um cigarro na boca, voltarei a ser fumante”.

No consultório, considera o tratamento para deixar o tabaco individual e multiprofissional, com apoio psicossocial, podendo usar medicamentos para lidar com os sintomas da abstinência ou não, de acordo com o paciente. Apesar disso, evita a reposição de nicotina com chicletes ou adesivos. “Muitas vezes, isso eleva o consumo de nicotina, trazendo náuseas e o mantendo com os maiores perigos do cigarro para o sistema cardiovascular, como a aterosclerose”, explica. Tampouco defende o “parar aos poucos”. “O organismo ‘prega peças’ e faz o paciente ter muitas desculpas para continuar no tabagismo, quando não há argumento que justifique os prejuízos à saúde. A falta do cigarro diminui a carga de serotonina e isso traz a sensação de mais desprazeres é por isso que o tabagista liga essa sensação ao controle de estresse emocional e isso não é real. Cigarro não é calmante”, alerta.

O Clínico diz que é um período complicado até deixar de sentir a abstinência do cigarro, que pode durar de dias a meses. “O primeiro sintoma é a irritabilidade, intolerância e ansiedade, podendo inclusive gerar palpitações e aumento da pressão arterial. Nos primeiros dias pode-se ter alteração do apetite, do sono, boca seca e labilidade emocional. Isso vai se atenuando ao longo dos dias, porém tudo deve ser bem controlado para não haver recaídas”, explica. Dr. Paashaus recomenda que os pacientes evitem outros prazeres que costumam associar ao fumo, como o consumo de café ou bebidas alcoólicas até se sentirem mais confiantes. A pessoa que deseja parar de fumar precisa desenvolver outros hábitos, alguns passam a beber água, outros aderem a algum esporte ou arte, como pintura ou música, tem quem se apegue à religião e há quem adquira um hábito menos saudável, como o consumo de balinhas e doces, mas o apoio dos amigos e familiares é o mais importante, de acordo com o Clínico. Sem brigar com a pessoa ou proibir o cigarro, porque pode passar a fumar às escondidas, mas sim apoiar, principalmente, com o exemplo, já que a convivência com o tabaco torna a vida de quem quer superar o vício ainda mais difícil.

“Parar de fumar não é fácil, mas é possível. As primeiras semanas são sacrificantes, mas o tempo causa um benefício enorme na diminuição da abstinência. Talvez a melhor palavra para o candidato ao abandono do tabaco é “perseverança” e a melhor palavra para se manter abstene é “resiliência”, afirma.