Fonte: AMB

A medicina brasileira ganhou mais um destaque internacional. O presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Lincoln Ferreira, é o novo presidente da Confederação Médica Ibero-Latina-Americana e do Caribe (Confemel). A mudança na liderança da entidade ocorreu depois que Anibal Cruz Senzano renunciou à presidência da Confemel para assumir o cargo de Ministro da Saúde na Bolívia. Lincoln Ferreira acredita que a entidade é muito importante por fazer um intercâmbio de auxílio, atuação conjunta e de aquisição de experiências entre países ibero-latino-americanos.

O Brasil de hoje não é pródigo em boas notícias. Muito ao contrário. Praticamente todos os dias, jornais, portais e programas informativos trazem notícias sobre corrupção, má gestão da coisa pública, precariedade nos serviços estatais, só para citar casos que já se tornaram recorrentes há décadas.

Dias atrás, o ex-ministro das pastas da Defesa e da Segurança Pública, Raul Jungmann, ocupou manchetes, ao afirmar que o crime organizado controle votos, elege políticos e faz nomeações para os cargos de alto escalão.

As declarações foram fonte deenorme polêmica. Entretanto, não há nada a estranhar. Se considerarmos que parcela considerável dos políticos brasileiros de todas as instâncias, inclusive do Congresso Nacional, são ficha suja, a situação é alarmante. Diversas denúncias e escândalos são de conhecimento dos cidadãos, mas nada muda em virtude da inércia e/ou da omissão daqueles que deveriam cobrar responsabilidades e punir os autores de maus-feitos.

Um dos principais problemas desse círculo vicioso é que a população, cada vez mais, tem dificuldade de acesso ao atendimento público e, quando consegue, é pessimamente assistida.
Na saúde, minha expertise, há distintos exemplos de mazelas. Na rede estatal, falta investimento, os recursos humanos de qualidade estão escassos, as políticas de remuneração são exploratórias, entre outros problemas. Essa conjunção de fatores traz prejuízos importantes aos pacientes, que sofrem em filas gigantescas, padecem com a falta de medicamentos e com o sucateamento das unidades de assistência.

Um desavisado pode dizer que ao menos os que possuem planos e seguros saúde recebem atendimento digno. Só que não é bem assim. Há uma série de empresas que negam cobertura, pressionam médicos a reduzir pedidos de exames e outros procedimentos e antecipar altas e por aí vai. Assim, os usuários pagam mensalidades altíssimas sem ter contrapartida. Prestadores de serviço,têm sua autonomia aviltada e as mãos atadas, várias vezes, sem conseguir administrar as melhores técnicas e tratamentos.

Pior é que o quadro tende a se agravar caso uma proposta das operadoras de planos de saúde vire Lei. Elas querem colocar no mercado produtos segmentados, que deixarão um contingente gigante à beira da amargura. Para ter uma ideia, pretendem vender produtos que oferecem internação, mas não acesso a UTI. Que dão direito a consultas básicas, mas não a especialistas. Circo de horrores.

A Sociedade Brasileira de Clínica Médica, a qual presido, já fechou questão contra, ao lado de outras instituições como o Idec, de defesa do consumidor, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Associação Paulista de Medicina e outras 40 entidades da sociedade civil.

Não podemos admitir que qualquer proposta semelhante se concretize. Além de ser nociva à saúde suplementar, encherá ainda mais as filas do Sistema Único, o SUS, que também terá de arcar com grandes despesas de alta complexidade, enquanto as empresas ficarão com o mais light, só amealhando mais e mais lucros.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

   
Fotos: Última edição do Curso Avançado de Reciclagem em Clínica Médica, realizada em São Paulo, de 22 a 26 de julho de 2019


A 10ª edição do tradicional Curso Avançado de Reciclagem em Clínica Médica acontecerá na capital paulista de 27 a 31 de julho de 2020. As inscrições já estão abertas e podem ser feitas pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Realizado pela Escola Paulista de Ciências Médicas (EPCM), o curso acontece no mesmo ano em que o Instituto Professor Antonio Carlos Lopes (IACL) completa cinco anos de existência.

O curso, voltado a médicos, residentes e pós-graduandos de Clínica Médica, também comemora no ano que vem 15 anos de sucesso trazendo sempre em sua programação, temas atuais de interesse do Clínico e a participação de renomados profissionais da Medicina.

Entra ano, sai ano, a saúde segue – sempre! – como uma das principais preocupações do brasileiro. Não dá para ser diferente. Afinal, a rede pública é subfinanciada, sofre com má gestão e oferece mais dificuldades do que facilidades a quem necessita de atendimento.

O resultado, todos sabemos: a maioria da população padece em filas por consulta, demora meses (até anos) para conseguir uma internação, sofrendo ainda com a falta de medicamentos, estruturas sucateadas, entre outras mazelas. Daí explicasse o fato de um plano de saúde ser um sonho de consumo, em especial para os cidadãos mais vulneráveis socialmente. Se fizermos uma enquete em hospitais do sistema único, confirmaremos que milhões almejam uma assistência com mais possibilidades de acesso, resolutiva e sem sobressaltos para eles e seus familiares.

Aliás, muitos dos nossos compatriotas já se viram nos 30 para pagar um plano, pois pensam, por exemplo: “Se meu filho adoecer, terá uma assistência de qualidade, bons hospitais, exames”. Quem dera. A verdade nua e crua é que faz anos o sonho ganha feições de pesadelo.

De uma década para cá, no mínimo, diferentes pesquisas da APM (Associação Paulista de Medicina), encomendadas aos principais institutos de opinião do Brasil, confirmam que o slogan de uma antiga campanha publicitária (de denúncia) permanece atual, infelizmente: “Há planos de saúde que enfiam a faca em você e tiram o sangue dos médicos”. Os profissionais de medicina denunciam recorrentemente pressões das empresas para reduzir a solicitação de exames e procedimentos, para evitar internações e para antecipar altas.

O lucro, e não a saúde, é prioridade para certos planos. O quadro já preocupante e tende a se agravar. Duas semanas atrás, as empresas apresentaram com pompa e circunstância, no Distrito Federal, um documento com propostas para mudar a legislação, que, até o momento, ainda garante cobertura mínima para os pacientes. Querem modificar a Lei 9.656, de 1998, para explorar novas modalidades no mercado. A ideia é comercializar planos payper-view, ou miniplanos, como vêm sendo chamados. Esses produtos dariam direito à segmentação da saúde suplementar. Assim, passariam a ser vendidas modalidades para consultas, outras para internações, outras para um tipo de especialista e coisas assim. Absurdo total. Ser humano não pode ser fatiado. Não existe saúde pela metade.

Um médico, ao receber um paciente, não pode deixar de solicitar exames essenciais, em virtude de o plano não cobrir e de a pessoa não ter condição de ir à rede privada. A Sociedade Brasileira de Clínica Médica e outras 36 instituições, entre as quais a defesa do consumidor, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério eaDefensoria Públicas, a APM, o Idec e dezenas de especialidades médicas posicionaram-se imediatamente contra essa propositura.

A cada dia chegam novas adesões ao grupo batizado de Frente Contra os Ataques dos Planos de Saúde. Você consegue se imaginar em um plano que oferece internação, mas não UTI, caso sofra uma intercorrência grave? Que cubra o ginecologista, mas não dê acesso ao parto? Isso não existe. Existe um blog para aqueles que desejaram se unir nesse protesto. O endereço é www.frentecontraataquesplanos.com.br. Junte-se a nós por mais saúde a todos os brasileiros.


Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

   

O presidente da SBCM, Prof. Dr. Antonio Carlos Lopes, foi convidado de honra do 14º Congresso Médico Científico (COMEC 2019) da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes). O evento, organizado pelo Centro Acadêmico Dr. José Martins Fontes (C.A.M.F), teve início dia 21 de outubro e fez parte da comemoração dos 20 anos do curso de Medicina da instituição.

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